Durante o exercício que levou a minha companhia à zona de responsabilidade norte americana na Bósnia i Herzegovina, tivemos a oportunidade de assumir a responsabilidade de patrulhamento dos americanos, enquanto estes se encontravam empenhados nos trabalhos de rotação das forças, (chegada de uma nova e partida da anterior).
Uma das zonas de responsabilidade seria a cidade de Srebrenica, onde foi empenhado um dos nossos pelotões. Uma das secções desse pelotão iniciou uma patrulha conjunta com os militares americanos que se encontravam disponíveis para nos explicar o que era necessário fazer. Percorreram as ruas e ruelas da cidade, os militares portugueses fardados normalmente, mas armados, e apenas de boina, o que correspondia ao dress code que o estado de segurança em vigor impunha. Já os americanos, íam sempre com o seu flak jacket (colete balístico) envergado e o capacete colocado na cabeça. Tal facto fazia com que os miúdos se divertissem a arremessar-lhes pedras, não no intuito de aleijar, mas tão somente porque achavam graça ao barulho que as pedrinhas faziam ao embater nos capacetes.
Dado que estava um dia bastante quente, e ao passarem em frente a um bar, os portugueses sugeriram aos americanos que entrassem por forma a beber alguma coisa fresca. Os americanos resistiram bastante, mas lá acabaram por aceitar acompanhá-los. Entraram pelo bar adentro, tendo obtido o silêncio, os olhares pouco amigáveis e todas as atenções dos locais que se encontravam no interior do bar. Os americanos estavam a ver que a coisa ainda ía dar para o torto. As coisas mantiveram-se neste ponto, até que um dos locais, mais próximo dos portugueses, identificando as cores da nossa bandeira na manga da farda de um dos nossos soldados, exclama alto e bom som, dirigindo-se aos restantes presentes no local:
- Португалски!!!!! Португалски!!!!![1]
- Cмоква[2]!!!!!, Cмоква!!!!! – E dirigindo-se para o balcão do bar, gritou:
- пиво[3]!!!! пиво!!!! – Lá vieram as cervejas para os portugueses, para os locais e também para os norte-americanos presentes, os quais pareciam estar a experienciar um sonho. Fez-se festa naquele local, beberam-se umas quantas cervejas e terá havido direito a abraços e tudo. No final, despediram-se e vieram embora, tendo retomado a patrulha. Os americanos interrogaram aos portugueses se já haviam estado naquele local, pois aparentemente os locais já os conheciam, tendo obtido a seguinte resposta, por parte dos portugueses:
- Não, nunca cá estivemos. É a primeira vez. Sabem, nós portugueses somos cidadãos do mundo. – Os americanos, admiradíssimos, fizeram silêncio.
E esta é a nossa realidade, verdadeiro motivo de gáudio para todos nós, portugueses. Onde quer que vamos, por muito difícil que seja a conjuntura do local, acabamos por fazer amizade com toda a gente, de todas as facções, e sem termos que dar tratamento preferencial a qualquer um deles. Aliás, a nossa longa história fala por si. Se não tivéssemos esta característica de cidadão do mundo, jamais conseguiríamos ter estado em tanto local do mundo, e com um vasto Império, baseado principalmente nas nossas relações com os outros povos e não tanto na repressão dos mesmos.
[1] Portugalski – Português em Servo-Croata, mas em cirílico, dado estar-se em território sérvio da Bósnia, na Republika Sprska;
[2] Figo, o famoso jogador de futebol e que fez mais pela diplomacia de Portugal no Mundo que o que conseguiria um Batalhão desenfreado de Ministros dos Negócios Estrangeiros, Embaixadores, diplomatas, e outras patas que tais;
[3] Pivo! – Cerveja, em Servo-Croata.
Numa qualquer aula de matemática e a propósito de nada, o camarada Topo-Gigio, que se sentava na secretária mesmo em frente à secretária da professora, olhando fixamente para os olhos da professora Paulinha, lembrou-se de lhe dizer:
- Setora! A setora tem os olhos tortos! – Mais constatando um facto em voz alta que fazendo uma acusação, mas conseguindo chamar a si, de imediato e na totalidade a atenção da professora que, parando a aula, responde-lhe:
- Mas isso é por causa das lentes de contacto, queres ver? – Acto contínuo, e com a atenção de todos os alunos da turma sobre si, uma após a outra, lá removeu as lentes de contacto, findo o que olhou ostensivamente para o camarada Topo-Gigio, mostrando os seus olhos muito abertos, esperando talvez uma resposta positiva por parte deste camarada que, em lugar de estar calado, voltou à carga:
- Mas professora, os olhos estão tortos na mesma! – Esta sua afirmação teve o condão de conseguir soltar umas quantas gargalhadas do resto da turma e de ao mesmo tempo o condenar em definitivo. Nunca mais o Topo-Gigio viria a ter uma única nota positiva a matemática com aquela professora, tendo acabado por chumbar e abandonado o Pilão.
Verdades há que têm que ser mantidas em silêncio, apesar de não deixarem de ser verdades.
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